domingo, 27 de julho de 2008

A grama do vizinho

Outro dia entrei no elevador, pela manhã. Não era mais o elevador de casa, já era o do escritório. Um pouco tarde, como sempre. Mas eu saio tarde, também. Isso diminui um pouco da culpa. De terno, barba feita, nó windsor na gravata, perfeito. Impecável. Deixei o carro no terceiro subsolo e fui subindo. Ao parar no térreo, entra um rapaz. De tênis. Ipod nos ouvidos, mochila da Oakley, óculos escuros, uma camiseta bem bacana. O cabelo era meio moicano, bagunçado, divertido, livre. E nas pernas, uma bermuda.

Eu podia suportar tanta coisa, mas não aquilo. Eu, prisioneiro até no barbear rente e o rapaz de bermuda! Foi provocante demais. Por outro lado, um olhar sobre o futuro, a invasão digital. Na Vila Olímpia tá cheio dessas coisas. Empresas de mídia, TI, marketing, webmarketing, e-market, e-sales, o virtual se sobrepondo ao real, em tudo, em todos. Quem se esconde atrás da tela, se apresenta para o cliente de bermuda, com cabelo moicano e iPod nos ouvidos. Afinal, não é preciso nem escutar Basta ler e escrever, nas múltiplas janelas, dos múltiplos computadores.

Com mais calma, me lembrei que ele também é prisioneiro. Somos todos formiguinhas, carregando dez vezes o peso do nosso corpo nas costas. Pra quem olha lá de cima, do infinito, a única diferença era a cor. Uma das formiguinhas do elevador tinha as perninhas branquinhas, pois estavam de fora. Mais tarde, Bourbon Street para assistir Jorge Drexler cantar. Ali, não senti a menor saudade da bermuda do vizinho. E por falar em vizinho, the grass is always greener on the other side. Alguém duvida?